Frederico Ozanam e os seus companheiros frequentavam a Conferência de História a qual decorria nas instalações dos Bonnes – Études, em Paris.
Aberta a todas as tendências, fácil é imaginar o choque de opiniões, a discussão viva das ideias e pensamentos que estes jovens de 20 anos, calorosamente apresentavam.
Ozanam sobressaía com a sua inteligência e erudição, e o seu ascendente era naturalmente aceite, dada a modéstia que dele emanava.
Depressa, porém, se deram conta que as discussões eram sobretudo de ordem política, campo que Ozanam e os seus amigos liminarmente rejeitaram, tendo enveredado pela formação de uma comissão que assumiu o encargo de aí apresentar temas e intervenções de carácter cristão, tendo, nomeadamente, chegado a propor que se realizassem reuniões onde só se tratasse de vida cristã e de caridade.
Certo dia, um jovem aproveitou uma intervenção para se insurgir contra o Cristianismo, dizendo: “Outrora o Cristianismo fez prodígios, quem o contesta? Mas hoje o Cristianismo está morto. Na verdade, vós que vos gloriais de ser católicos, que fazeis? Onde estão as obras que mostrem a vossa fé e que nos levem a respeitá-la e admiti-la?”
Ozanam sentiu-se atingido em cheio. Os seus olhos já haviam visto situações de miséria: miséria do espírito, do coração, misérias do corpo.
O desenvolvimento súbito das ciências e a deficiente organização social tinham deixado sequelas como o aumento da miséria e a proliferação de indigentes.
Ampère, célebre matemático e físico francês, por quem Ozanam tinha grande apreço, comentava: “Se possuísse tudo o que o que se pode desejar no mundo para ser feliz, faltar-me-ia ainda tudo: a felicidade do outro”.
Ozanam angustia-se com a situação e impulsionado pelo exemplo do pai e da mãe, reflecte sobre o repto que lhe havia sido lançado e decide-se. “É verdade, respondeu, falta-nos uma coisa: as obras de caridade. A bênção dos pobres e a bênção de Deus”.