É no silêncio do teu olhar, que pressinto o que a boca não diz e o coração oculta.
O teu gesto contido esconde um laivo de tristeza e de amargura, uma solidão resignada, um grito de alma abafado.
“A vida é uma farsa e o mundo cruel”, são convicções que te possuem, que te levam ao desespero, ao desânimo.
No teatro da vida, contemplas o desfile da mentira e da injustiça, da fome e da guerra, da opulência e da indiferença.
E sentes-te vazio. Um zero camuflado de revolta interior. Nas mãos, um pouco de nada.
Contudo, ao canto do olho, onde uma lágrima espreita, vislumbro um querer diminuído, mas não derrotado.
- Não percas a confiança, procuro balbuciar. Há irmãos nossos, sofrendo muito mais, e que não desistem. A sua fé ajuda-os a ultrapassar as dificuldades da vida. Lembra-te que Deus, nosso Pai, tudo providencia.
Não foi Ele que disse: “Qual é de vocês que, por mais que se preocupe, poderá prolongar um pouco da sua vida? Não estejam preocupados nem inquietos com o que hão-de comer e beber. Tudo isso procuram os que só pensam neste mundo, mas vocês têm um Pai que sabe muito bem do que precisam. Procurem primeiro o Reino de Deus que tudo isso vos será dado”. (Lc 12, 25, 29 a 31)
Calaram-se as palavras. E no meu e teu silêncio, a Palavra de Deus encontrou guarida, e um suave bálsamo aliviou a tua e minha angústia.