Amanheceu cinzento o dia 9 de Setembro, facto de que, em regra, não desgosto.
Contudo, hoje, a minha alma encontra-se envolta num manto de pesar. Acabo de me despedir do Júlio, na Igreja da Misericórdia. A sua breve passagem pela pátria terrena, 54 anos, torna a situação mais dolorosa e deixa-me perplexo.
No sótão das minhas recordações, revejo outros companheiros de trabalho que, precocemente, o Senhor quis agregar ao Reino da Luz.
Senhor, os Vossos desígnios a nosso respeito são insondáveis!
Neste turbilhão de pensamentos em que rodopio, o meu coração eleva-se até Vós, Senhor, centro de gravidade da nossa vida, nosso destino final.
E sinto uma vontade imensa de “mergulhar as mãos no barro da vida e daí desentranhar o Reino de Jesus, e depois erguê-las ao Céu”, para que um dia antes possa dizer «bem fiz eu», do que «se eu soubera», teria procedido doutra forma.
Senhor da História, nas tuas mãos, está a chave da vida e da morte.
O Júlio acabou o seu combate. Resta-lhe o silêncio e a paz. Para nós, que sentidamente lamentamos a sua partida, o gongo continua a soar, chamando-nos ao próximo combate. Até quando?
Levanto-me. Um último olhar.
No meu silêncio, tudo é silêncio e ausência. Onde estais, Senhor?
Na escuridão da minha fé, sinto frio, tudo me amedronta.
A luz da minha lâmpada, apesar de bruxuleante, procura seguir os Vossos passos. Cobre-me, Senhor, com a Tua Presença. “Tu és o meu Lar e a minha Pátria. Em Ti quero repousar, no final do combate”.