Acabo de ouvir as notícias da noite. A guerra continua no Médio Oriente. A fome grassa no Afeganistão. O frio gela a Europa e faz vítimas mortais.
No meu ouvido, ecoam, longínquos, mas audíveis, gritos de dor e de raiva, gemidos sofridos, choros lancinantes.
É um silêncio perturbador.
A insensibilidade ou inoperância dos homens é confrangedora. A sua impotência face às forças da Natureza é total.
Neste mar de sofrimento, vejo irmãos nossos erguendo os olhos ao céu à espera dum milagre, outros perscrutam o horizonte à espera do auxílio que tarda, outros choram amargamente os entes desaparecidos.
Os seus rostos transfiguram-se, e no meu silêncio, entrevejo o rosto do Senhor. Rosto desfigurado pela noite de vigília e de oração no Monte das Oliveiras. Noite de insónia, agravada pela ausência e fuga dos amigos.
Rosto desfigurado pelos açoites e pelos espinhos cravados no seu Santo Corpo.
Rosto desfigurado pela prepotência do poder instalado, pela traição de Judas e a negação de Pedro.
Apesar de tudo, Senhor, consigo ainda vislumbrar no canto dos olhos desses irmãos, uma réstia de esperança que uma lágrima furtiva, teima em enevoar.
No silêncio … eu continuo a escutar e, como Santo Agostinho, continuo a pedir-Te:
“Dá-me força de perguntar por Ti,
Pois Te deixaste encontrar
E me infundiste esperança
De sempre mais Te encontrar”.