Acabo de assistir à Eucaristia de sufrágio pelas almas do Pedro e da Sílvia. Todos ficámos mais pobres e o mundo mais triste. De rostos serenos na morte, partiram. Deixaram dor e lágrimas. Ficou a saudade no coração dos seus familiares e amigos.
Partiram tragados pela voragem da velocidade, do tempo e da estrada.
Os jovens vestiram-se de luto. Rostos sofridos, lágrimas nos rostos e no coração, abraçavam-se para mais facilmente suportar e esconjurar a dor; rezaram o terço pelos amigos tão prematuramente ceifados pela morte, na flor da vida; prestaram-lhes uma sentida homenagem e disseram-lhes adeus até à eternidade, com vozes embargadas pela comoção que sensibilizaram a comunidade e fizeram brotar lágrimas que teimosamente rolavam pela face dos presentes; carregaram-nos aos ombros até ao cemitério.
No meu silêncio, procuro (ousadia minha!), interpretar os Vossos desígnios, Senhor, e tento perscrutar, embalado pelo silêncio que grita, pelos olhares ansiosos, respostas.
Recordo as palavras de S. Paulo: «em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; abatidos, mas não aniquilados» (2 Cor 4, 8-9) e penso que, no ritmo alucinante desta vida é preciso, por vezes, parar; que não há respostas senão em Vós Senhor da vida e da morte e interrogo-me porque será que a vida não tem o condão de nos unir e irmanar tão intensamente como a morte.
Qual é pois, ó morte, o teu fascínio, o teu sortilégio?
Envolto no véu reconfortante da esperança cristã, só me resta, Senhor, pedir-Vos que amaineis e aceiteis o nosso sofrimento e conforteis as famílias enlutadas pela dor da separação e da perda física dos seus entes queridos. Pedir-Vos que o odor das nossas flores e orações chegue até Vós e faça frutificar no coração dos homens o desejo de Vos amar cada vez mais, pois só em Vós está o nosso refúgio e consolo.