Foi na tarde de sábado, 23 de Dezembro do ano 2000. Cumprindo a tradição, as Conferências de S. Vicente de Paulo da paróquia de S. João Baptista da Sé, promoveram a entrega de géneros alimentícios a 14 famílias carenciadas, visando assim contribuir para a melhoria da sua Ceia de Natal.
Apesar do frio e da chuva, os olhares humedecidos daqueles que visitámos, transmitiram-nos uma lufada de calor humano. A angústia e a solidão foram momentaneamente derrotadas. A esperança renasceu no coração dessas pessoas.
Estes momentos de contacto humano são para nós, membros das Conferências, o bálsamo que conforta a alma, o prémio espiritual que Deus nos proporciona e nos impele a prosseguir nesta caminhada de entrega ao serviço dos pobres. Para eles, desesperados do silêncio, cuja voz clamante nem sempre é ouvida ou pressentida por aqueles que têm obrigações institucionais de combater a pobreza e a exclusão social, significa que, apesar de tudo, há sempre alguém que os não esquece.
Como é reconfortante sentir a alegria estampada nesses rostos vincados pela marca do tempo.
“Até bacalhau nos trazem!”, balbucia um homem relativamente novo, de sobretudo coçado, cujas barbas e cabelos hirsutos transfiguraram num homem alquebrado e mais velho.
Sim, respondem-lhe. É pouco, mas trazemo-lo em nome das Conferências de S. Vivente de Paulo, com muito amor e com votos de que este Natal seja melhor do que o do ano transacto.
Segurando a sua mão trémula, despedimo-nos, com afecto.
As estrelas já cintilavam nos céus, tentando dissipar o nevoeiro. O espírito natalício, envolto numa suave alegria, invadiu as nossas almas. “Dar aos pobres é emprestar a Deus”.
Contudo este gesto de partilha, finalidade última da existência das Conferências, só é possível, graças à generosidade dos seus amigos e benfeitores, a quem desejamos as maiores venturas pessoais, em Cristo, nosso Salvador.