Primeiros dias de maio,
Este ano
De águas mil,
Sombrio e friorento,
Como não se via
Há muito tempo.
Espreito pela janela.
O tempo convida á quietude do lar.
Ao longe,
Uma suave neblina
Acaricia a cidadela
E a chuva cai sem cessar.
São cinco horas da tarde.
Num canal de televisão,
Uma jovem é entrevistada.
Palavras amargas,
De desespero e desalento,
Saem-lhe da boca
E do coração.
É um relato de violência,
Um grito de angústia,
De sofrimento e dor.
Uma vida sem sorte,
Pedindo justiça
E a prisão do pai ameaçador
Que a quer matar,
E a quem deseja a morte
Para poder ser feliz.
Como é possível, Senhor?
A entrevista terminou
E um amargo de boca nos ficou.
Ficámos quedos, sem palavras,
Perante este drama humano
De quotidianos mil,
De lutas e carências,
De lágrimas escondidas
E dolorosas experiências.
Até quando, Senhor,
Tanto ódio, desamor e maldade?
Lá fora, anoitece.
E a chuva continua a cair
Com intensidade.