Portugal tem o mais baixo salário mínimo nacional dos estados membros da União Europeia. Segundo o Ministério da Segurança Social e do Trabalho, são 4% os trabalhadores portugueses que levam para casa, líquidos, 325, 38 euros.
Perante esta realidade, quantos sonhos adiados. Quanta ginástica é necessária para matar a fome, para pagar as contas da luz, do gás, da água, da renda de casa, do passe para os transportes e do infantário, refere o casal Silva com 2 filhos em idade escolar e que leva para casa dois salários mínimos. “Às vezes fico deprimida, não me apetece ir trabalhar, mas tenho os filhos e as contas”, desabafa a Margarida.
E que dizer de 80.126 cidadãos (número de 31/12/2002 da Segurança Social) que recebem apenas a pensão social – 151, 84 euros? Que dizer doutros extractos sociais também numerosos, como, por exemplo, os pensionistas do regime especial das actividades agrícolas que recebem 186, 16 euros? E os 452.542 portugueses que em 31/12/2003 estavam desempregados?
O Concílio Vaticano II através da Constituição Pastoral Gaudium et Spes: a Igreja no Mundo Actual, refere que “ o dever de justiça e caridade cumpre-se cada vez mais com a contribuição de cada um em favor do bem comum, segundo as próprias possibilidades e as necessidades dos outros. Não poucos se atrevem a eximir-se, com várias fraudes e enganos, aos impostos e outras obrigações sociais.
Enquanto multidões imensas carecem ainda do estritamente necessário, alguns, mesmo nas regiões menos desenvolvidas, vivem na opulência e na dissipação. Coexistem o luxo e a miséria. Muitos vivem e trabalham em condições indignas da pessoa humana. Para satisfazer às exigências da justiça e da equidade, é necessário que se eliminem o mais depressa possível as grandes e por vezes crescentes desigualdades económicas actualmente existentes, acompanhadas da discriminação individual e social”. (GS 30, 63 e 66)
E no meu silêncio, como cidadão, como cristão, medito e sinto uma revolta interior pela miséria em que vivem muitos irmãos e pela minha impotência face a realidades tão duras e escuto a dor, a tristeza e a solidão daqueles que não têm voz, nem poder reivindicativo e para os quais a esperança, neste mundo, duma vida melhor é apenas uma miragem.
Perante este quadro social, o que sentimos e fazemos nós, cristãos?
Será que no tempo próprio e nos ambientes em que nos movemos pugnamos pela justiça social, pelo desfazer das desigualdades? Será que não vivemos “acomodados”, e ingenuamente satisfeitos pela rotina do nosso quotidiano? E a acção? E as obras?
Neste período quaresmal, tempo de penitência e conversão, tempo de uma caridade mais diligente e intensa, permitam-me que deixe estes tópicos para uma reflexão pessoal. Oxalá sejam um alerta, para que não andemos enganados, pois, “Nem todos aqueles que me dizem: “Senhor, Senhor”, entrarão no Reino dos Céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus”. (Mt 7, 21)