A liturgia da Igreja celebra, nos dias 14 e 15 do corrente mês de Setembro, respectivamente, a Exaltação da Santa Cruz e Nossa Senhora das Dores.
Pela Cruz, Jesus mostrou ao mundo a grandeza do seu amor. Ele que era Deus, quis assumir o peso da iniquidade humana, e, sujeitando-se à morte, resgatou-nos do pecado, abrindo caminho à salvação de todos os homens, inclusivamente daqueles que O perseguiram, acusaram e condenaram à morte.
Jesus, Deus feito homem na sua plenitude, sofre dores inauditas – dores corporais causadas pelas vergastadas, pelos espinhos, pelo peso do madeiro que foi obrigado a transportar. Sofre atrozmente, quando os cravos lhe trespassam as mãos e os pés, quando a lança do ódio lhe perfura o peito.
Acresce a este sofrimento carnal, um sofrimento psicológico, motivado pela indiferença dos homens, pelo desertar dos discípulos, pela dor incontida e a impotência dos amigos e, em especial, de Sua Santa Mãe, a Senhora das Dores.
A dor suportada, a morte na Cruz, as lágrimas da Mãe, não podem ser, não são, a expressão do fracasso duma vida e das vidas que com ele se cruzaram, como humanamente seria lógico pensar.
Pelo contrário, são o meio e o caminho para a glorificação, para o cumprimento integral da vontade do Pai, para a plenitude.
Assim, tem todo o cabimento a Exaltação da Santa Cruz. Este é o sinal indelével que marca, desde a infância, a vida do cristão. Por ela, foi-nos conferido o penhor da salvação.
Redimida no lenho da Cruz, a humanidade vencerá as tormentas e as procelas que ela própria fomenta.
Pela Cruz, advém o arrependimento, o bálsamo da reconciliação, o alento na fragilidade, o refúgio na aflição, a bênção santificadora e, chegada a última hora, o passaporte, a esperança duma vida nova na nova Jerusalém do céu.
Alia a Igreja à celebração da Cruz, a festa de Nossa Senhora das Dores.
Maria, co-redentora do mundo com seu Filho Jesus, percorre, desde cedo, o caminho do sofrimento e da angústia.
Vemo-la em Nazaré, perplexa, quando o Anjo lhe anuncia ter sido escolhida para Mãe do Salvador. Enfrentando os comentários dos vizinhos que desconhecem o mistério da Encarnação, não hesita no sim à vontade do Altíssimo.
Sofre quando, não havendo na hospedaria lugar para ela, é obrigada a recolher a um estábulo, onde acontece o nascimento de Jesus.
Corre apressada para o Egipto, de coração inquieto, temendo pela vida de seu amado Filho.
Aflige-se quando O não encontra na caravana, de regresso a Nazaré.
Mais tarde no decorrer da vida pública do Messias, os seus dias e noites ensombram-se, só de pensar que algo de mal lhe poderá acontecer.
É assim o coração da Mãe. Ausente mas sempre presente.
Sentimos a sua ansiedade ao saber de Jesus preso, escarnecido, e a dor atroz quando recebe a notícia da sua condenação à morte.
Acompanhamo-La percorrendo o caminho íngreme e sinuoso da Via Dolorosa, sofrida e angustiada, seguindo os seus passos.
Coração pleno de dor, estremece quando O açoitam, O insultam e O vislumbra no meio da turba, pejado de suor e sangue.
Vemo-La, finalmente, junto à Cruz, assistindo ao desenrolar dos acontecimentos, aguardando, resignada o último suspiro de seu Filho.
Solidários com a sua dor, os discípulos e as santas mulheres choram. A sua dor e gritos lancinantes ainda hoje ressoam aos nossos ouvidos, fazendo-nos estremecer e arrepiar.
O caminho da Cruz foi o caminho dum vencedor. Sê-lo-á também do cristão se, imitando Jesus e a Senhora das Dores, trilhar o caminho da dor, do sofrimento, com resignação e por amor Daquele que ofereceu por nós a Sua própria vida.
Este caminho de redenção, será o cadinho onde a alma se há-de purificar dos pecados e infidelidades cometidos.
Vós, Senhor, que “nos dais a dor como preceito”, e que “feris para curar”, fazei-nos dóceis à Vossa vontade e dai-nos coragem para a suportar, por Vosso amor, por intercessão da Senhora das Dores.